sábado, 23 de fevereiro de 2008

sobre o oscar e outras coisas

Se existe uma coisa que eu adoro em mim é essa esperteza auto-crítica e auto-misericordiósa de lonely boy que eu carrego pela minha vida. Saca o diálogo:

livio diz:
eu fui rever juno e sangue negro.
(...)
Bernardo diz:
foste sozinho?
livio diz:
com um balde de pipoca e um litro de refrigerante.

Só faltou um "com quem mais?" no fim da minha última frase para isso poder estar num roteiro de filme indie-sensação ou - deixa eu ser pretensioso - numa letra do Morrissey (ou do Jarvis Cocker, ou do do Brendan Benson, ou dos Los Campesinos, ou dos Black Kids...).

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That said, vamos ao Oscar.

Acho que pela primeira vez vi todos os 5 indicados a Melhor Filme antes da premiação. Num top, ficaria assim:

1- Sangue Negro
2- Juno/Onde Os Fracos Não Tem Vez
4- Desejo e Reparação
5- Conduta de Risco

"Sangue Negro" é o grande filme dos últimos anos, não tenha dúvida. É um épico que serve como reflexo para o estado das coisas nesses tempos tão negros quanto o petróleo que Daniel Plainview almeja. E não me venha com essa que Daniel Plainview é o vilão do ano.

Ele não é vilão coisa nenhuma. Nada de essência da maldade ou coisa do tipo (deixe essas considerações para o Anton Chigurh). Ele é humano e isso é o mais aterrador. O Chigurh de "Onde Os Fracos Não Tem Vez" é com certeza amedrontador, mas é um só personagem de ficção (você não vê pessoas com pistolas de ar comprimido antando por aí, vê?). Daniel Plainview, seja pela pertubora atuação do Daniel Day-Lewis ou não, é carne, osso e mal-estar perfeitamente tangível. Daniel Plainview sou eu, é você e é sua mãe. I drink your milkshake. I drink it up.

Sociologia a parte, "Sangue Negro" também é uma aula de cinema. Muitos podem reclamar do roteiro e da montagem. É sim um filme lento, difícil, mas, ei, nem tudo é um clipe do Hype Willians. PT Anderson conduz seu filme como um veículo do que o seus personagens significam. Por exemplo, quando a raiva toma conta de Plainview, a onda negra surge por de trás dele ameaçadora. Quando toda sua ganância se mostra, a brasa da fogueira ilumina seu rosto e, em especial, seus olhos de um vermelho único.

A cena final entra fácil num hall de melhores de todos os tempos. "I'm finished". O quão genial é isso?

É um filme pertubador, conduzido por uma trilha perturbadora, feito por um diretor perturbador. É um clássico, mesmo que você não pense assim agora.

"Onde Os Fracos Não Tem Vez" é também um grande filme sobre o mesmo tema de "Sangue Negro". Mas devido a imensidão desse, parece pequeno.

O roteiro é brilhante - nervoso, fechado e com um final instigante - e o Javier Bardem mereceria o Oscar de Melho Ator (coadjuvante my ass), se esse não fosse inteiro do Day-Lewis.

"Juno" é ultra-amável e complementar ao seus dois principais concorrentes no Oscar. Costumo dizer que não acredito em nada mais além do amor e da música (o quão piegas é isso?) e "Juno" é cheio dessas duas coisas que nos fazem continuar. No mínimo, reconfortante.

"Desejo e Reparação" seria um grande filme se os outros não fossem melhores. É bom, mas old-Hollywood demais para esses tempos. Tem grandes cenas (a da guerra é fabulosa), sotaque inglês de primeira e uma bela trilha sonora, mas talvez se torne ainda menor quando eu ler o livro (está na lista), o assim chamado "primeiro grande romance do século XXI".

E enfim temos "Conduta de Risco", um thriller-político bem feito igual a tantos outros. Está na lista, eu acho, porque todos amam o George Clonney. Ou então pela campanha maciça que os produtores vêm fazendo junto à academia, como conta a Ana Maria Bahiana no blog dela. Se ganhar, vai ser um mico gigante.

No mais, vamos ao bolão. (Indicações aqui)

Melhor Filme
Quem merecia: "Sangue Negro"
Quem ganha: "Onde Os Fracos Não Tem Vez" ou "Juno", por serem infinitamente mais Hollywood-friendly do que meu preferido.

Melhor Diretor
Quem merecia: Paul Thomas Anderson por "Sangue Negro".
Quem ganha: Os Coen ("Onde Os Fracos Não Têm Vez") ou o Julien Schnabel por "O Escafrando e a Borboleta" (ainda inédito no Brasil) que levou o Cannes e o Globo de Ouro.

Melhor Ator
Quem ganha e merece ganhar: Daniel Day-Lewis. Se derem o Oscar para o Clonney, vai ser um micão, por que ele ganhou merecidamente pelo mesmo papel há dois anos atrás. Se derem para o Depp, é por reparação histórica indevida.

Melhor Atriz
Quem ganha: Marion Cotillard ou Julie Christie. Na verdade, só vi mesmo a Ellen Page (good, not great), então não me atrevo ir além do feijão-com-arroz.

Melhor Ator Coadjuvante
Quem ganha e merece ganhar: Javier Bardem. Devia estar na categoria principal (o filme é todo dele), mas é até bom que não esteja para não disputar com o Day-Lewis.

Melhor Atriz Coadjuvante
Quem ganha e merece ganhar: Cate Blanchett. Ainda não vai ser dessa vez que ela leva melhor atriz, e ela merece mais por interpretar um Dylan melhor do que 5 marmanjos no filme que eu resenhei aqui.

Melhor Roteiro Original
Quem ganha e merece ganhar: "Juno". É aqui que os independentes fazem a festa. Só tomar cuidado com "The Savages" outro indie forte.

Melhor Roteiro Adaptado
Quem ganha e merece ganhar: "Onde Os Fracos Não Têm Vez". Em questão de roteiro, os Coens não são fáceis de bater.

Fotografia
Quem ganha e merece ganhar: "Sangue Negro".

Direção de Arte e Figurino
Quem ganha: "Desejo e Reparação", como prêmios de consolação.

Filme de Animação
Quem ganha: "Ratatouille". Pixar sempre imbatível, mesmo sem ter visto "Persepolis".

Trilha Sonora
Quem ganha: "Desejo e Reparação".

Canção
Quem ganha: alguma das três de "Encantada", mas eu preferia "Falling slowly" do "Once", que ainda não estreiou aqui no Brasil.

Maquiagem
Quem ganha: "Piratas do Caribe".

Efeitos Visuais
Quem ganha: "Transformers".

Montagem Sonora
Quem ganha: "O Ultimato Bourne".

Mixagem Sonora
Quem ganha: "Os Indomáveis".

Filme Estrangeiro
Quem ganha: "Beaufort".

Documentário Longa
Quem ganha: “Taxi to the Dark Side”.

Documentário Curta
Quem ganha: “Sari’s Mother”.

Animação Curta
Quem ganha: "Peter & The Wolf".

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